Aquela luz do resgate

Parece que eu ainda escuto a sirene tocando
e aquela luz do resgate que não para de piscar
O corpo no chão se recontorcendo
Num movimento de dor
Mas, que não sai do lugar.
Os médicos correndo, pessoas gritando
Momento de dor e saber que fui eu o causador
Gente me olhando, olhar acusador
Sem chance de defesa
E o corpo no chão. estendido
Meu choro contido
Minha culpa na mesa
O abrir e fechar de portas
O carro sai em disparada
Hospital, mais médicos
A certeza de que não foi um pesadelo
Eu do lado da maca tento em vão trazer pra mim
Uma dor que deveria ser só minha
Já que fui eu quem a causou
Sinto minha cabeça girar
Como se meu corpo estivesse
Numa outra dimensão
E aquele corpo na maca já não é mais um estranho
Seu nome José me faz lembrar
Daquele famoso poema “E agora José?”
Mas o correto seria dizer
E agora Edson?
O que fazer, como esquecer
José em sua altivez
Enfrenta tudo com dignidade
Não reclama ao contrário me consola
Eu que pareço o atropelado
Eu que não sei o que dizer
Eu que só queria chorar
E o José em seu olhar
Já me perdoou
E o José em sua bondade
Já fala da vida e do que vem pela frente
Eu que pareço o doente.
Juro acabou comigo
O José ganhou um gesso na perna
Mas, eu ganhei um verdadeiro amigo.
Hospital ficou pra trás agora Delegacia
E a frase que eu nunca pensei escutar
Chego a tremer só de lembrar
“Lesão corporal culposa”
O delegado foi impiedoso
O nosso José agora é “a vítima”
E eu com olhar de criminoso
Mal sabia descrever, relatar
Pois só da luz do resgate
Eu conseguia lembrar
Mas, o José mais uma vez
Em sua altivez
Me deu a absolvição
E só faltou levar pra si
Toma minha culpa.
Um dia inteiro, noite a fora
E na despedida
De volta pra sua vida
José se foi carregado
E eu com o carro batido
Totalmente abatido
Pareço eu o atropelado.
Juro que não serei o mesmo
Não há como não mudar
Carregar comigo a culpa
De machucar uma outra pessoa
Fazer sofrer outro ser humano
Mesmo sem intenção
Machuca demais o coração
Não como sair ileso
Sei que estarei sempre preso
Aquela luz do resgate...


Ontem dia 17 de abril, atropelei o José, ele em sua bicicleta, um cruzamento de uma rua de um bairro de nossa cidade, nosso encontro...
Não há como esquecer fecho os olhos e vejo ele saindo do nada e caindo sobre meu capô, batendo a cabeça sobre meu para brisa e graças a Deus mesmo com toda a violência da cena, José fraturou apenas a perna esquerda...
Conheci um ser humano fantastico e minha vida jamais será a mesma...
Apesar de toda a dor, apesar de minha culpa (mesmo isentado pelo José) conheci o perdão verdadeiro...
Sentimento divino, sem ele não saberia continuar...
Melhoras super Zé....