Quando se está na fase gestatória
Há um intervalo entre a existência e a vida.
É que para a cotidiana memória
A pessoa só existe se passível de ser vista.

Quando se vive na inocência de ser criança
Não há intervalos entre as brincadeiras e os sonhos
A não ser aqueles intervalos longos
Entre a boca da noite e o raiar da manhã.

Quando se está arrebatado por uma paixão
A vida se nos apresenta pautada de intervalos.
Se não está ao alcance de nossos braços
A pessoa que a gente ama, forma-se um vão...

Que mais se afigura um abismo.

Quando a chuva para de cair
Após uma tempestade de verão
Entre a derradeira gota e o chão
Há um intervalo em que o sol volta a luzir;

Entre as viagens de idas e vindas
Entre os encontros e as despedidas
Há um intervalo raso de saudades infindas
Nesta intolerável ausência da pessoa querida.

Mas dos intervalos, o mais dorido à nossa volta,
É o que há quando o ente amado parte co`a morte.
Ontem, este intervalo besta invadiu a porta...

De meu sentimento: e eu não pude dizer boa sorte
Ao meu tio ZÉ PRETO na sua despedida
Ao noventanos de vida untada de glória.


Homenagem póstuma ao meu tio ZÉ PRETO, que faleceu em 20/06/07, em Salinas-MG.
Um homen que, apesar das dificuldades por que passou, soube em seus 90 anos de vida, ser amável, amoroso, amigo e, acima de tudo, temente a Deus.
Saudades, muitas, agora que o intervalo se eternizou!!

curitiba, 22 de Junho de 2007