O Lago dos Cisnes

“ Esplêndida como as águas que se precipitam com um bramido de trovão das altas plataformas de rocha e mergulham nas profundezas azuis da noite, era a presença do amor que ela sonhava, e que atraía todas as gotas da força da vida e esmagava-as separadamente na soberba catástrofe em que tudo cedia e nada podia ser mais recuperado.”

Virginia Woolf- Noite & Dia

 

Estou com medo de olhá-lo através da crueldade em que a sua verdadeira realidade se tornará algum sentimento em similitude com a minha morte. Deitar-me-ei ao lado do corpo da ilusão, sozinha e procurando um pouco da minha alma sobre você. Estou com medo de que a dissecante luz de sua realidade possa ferir definitivamente a pureza das minhas ilusões e, logo após; não nos assegurar da ressurreição em que a mágoa ainda espera Lázaro ouvir a sua voz recolhida em Cristo. Mas estou morta pelo predomínio da ausência do amor... E haverá o amor em meu rosto que se refugia nas flores de Ofélia? Como amar os aspectos dissimulados do vazio do amor? O seu soberbo amor próprio e a pretensiosa fidelidade distinta para com a humanidade são as capacidades que assustam os espíritos entrelaçados no oculto sofrimento que nos une e, ao mesmo tempo; ressoa como a orquestra silenciosa, da qual cada mulher padece ao sentir inconscientemente às vibrações das notas de suas lembranças. Esse amor tão trágico e magnífico quanto à inominável dor que está transfixada pelo desconcerto de sua regência, faz-nos ecoar em voz uníssona, o eterno canto do cisne negro.

Cisnes negros morrem durante a imensidão do seu amor, e, no entanto; o que fez quando cada cisne abriu parcialmente a magoada asa ferida sob a sua renomada mente? Vejo, neste instante, cada mulher envolvida em seu xale vermelho, recurvada sobre si mesma ou deitada em sua cama; lembrando-se das mensagens perdidas no pródigo silêncio amoroso ou abandonadas em pérfidas frases de sua polidez. O Triunfo da Civilização retorna e arrasta consigo a voragem da solidão feminina. O Triunfo da Civilização conduzindo todas as magoadas asas para longe de sua riqueza mental. E o que sou? O que somos? Por detrás de suas orações, lágrimas crescem em quartos de mulheres iluminadas por uma única vela envolta pelas penas negras, caídas de nossos olhos secretos, pois choramos o amor dos cisnes mortos. Por detrás de suas orações, uma mulher morrerá, porque ouvimos a luz dos vitrais do silêncio a nos amar durante a sinfonia de sua vida, que nos olha e agradece por estarmos com todas as notas vigilantes.  

Eloisa Alves
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