Saudade que me sufoca,

um querer que dói no peito,

lembranças, coisa esquecida,

trazer de volta, que jeito?

Nas tardes quentes da infância, 

o corre - corre pro mar,

mergulhos, gritos, algazarra,

até chegar o luar.

Olhos vermelhos, molhadas,

eufóricas, querendo chegar,

chaleira quente esperando,

pra na bacia banhar.

A fome chegava junto,

no prato o arroz, o feijão,

o naco do pão torrado,

ruídos, satisfação.

Panela suja, num canto,

do quintal acomodada,

pro velho cão ir lamber,

tendo a fome saciada.

Histórias eram contadas,

por nossa mãe, com emoção,

dormíamos agarradinhas,

com medo da assombração.

Lá do alto a lamparina,

do armário vigiava,

com tênue Luz que tremia,

velando a criançada.

Em prece pedidos a Deus,

cuida da gente, amém, 

cansaço trazia o sono,

sonhos chegavam também. 

Com o Natal, que alegria,

culto na igreja, louvor,

bonecas de pano, sapatos,

todos vermelhos na cor.

No outro dia cedinho,

despertava a passarada,

meu pai saía pra pesca,

para a escola a criançada.

Na ponta da língua, decor,

chamada oral, taboada,

pequeno erro, deslize,

puxão de orelha, reguada.

E na volta para casa,

fazíamos o caminho a cantar,

vinha encontrar - nos o cachorro,

com o rabo a balançar.

Café na mesa, esperando, 

o pão, bolo de fubá,

as mesmas broncas, cochichos,

felicidade no ar.

Tempo cruel, tempo insano,

sem pedir de nós levou,

doces momentos, a infância,

saudade foi o que ficou.

Maria Isabel Sartorio Santos - Academia Itanhaense de Letras- Ail Itanhaém.

 

Maria Isabel Sartorio Santos
© Todos os direitos reservados