Rios na Escuridão

Feche teus olhos e sinta a imensa, infinita correnteza

A carregar consigo até o último resquício de luz.

Estamos acorrentados em um veleiro, e quem o conduz

É a cegueira plena a qual tomou a humanidade e a natureza.

 

A parca iluminação artificial, o escuro não reduz...

É o íntimo do ser humano, prenhe de negativismo, avareza;

Crueldade disfarçada de altruísmo, dúvida tida como certeza

Transformando aquilo que deveria ser saudável em uma bolha de pus!

 

Como superar a síndrome de ser tão imperfeito?

E estas mágoas, frustrações, melancolias intensificando a treva

A qual nos devora interiormente a cada milésimo e eleva

O valor da morte e da ruína dentro de cada frágil peito?

 

Com nossos corações e mentes, o escuro se ceva

Mastigando lentamente nosso ego até que fique satisfeito.

Vemos, então, o mundo sem as máscaras, com seu papel desfeito

E a frieza indiferente com valor de um pecado ainda pior que o de Eva!

 

Sempre cerramos os olhos, ainda que estejam abertos, neste turbilhão.

As sombras se aglomeraram em nossos íntimos, afluentes caudalosos...

Afogamo-nos em um desespero mudo e somos desventurosos,

Fingindo falsa felicidade enquanto somos levados em rios na escuridão...