Você diz que sou intenso
Sem sequer olhar para mim
E em tom de voz cômica;
Só bem tarde eu entendi
O que estava a me dizer.
 
A sua delicadeza é feito incenso,
Que, ao queimar, perfuma o ar;
As entrelinhas traduzem o fim
De um amor pelo qual nasci
E que você dá o tom de querer aniquilar.
 
Intenso para você é figurado;
Será no sentido de sem noção?
Quiçá, tem nova conotação:
Tolo, nonsense, indesejado?
 
Mas se você quis dizer
Intenso no sentido verdadeiro,
De pura intensidade;
Que adianta ser intenso
Numa relação onde um dos parceiros
Luta por outras prioridades?
 
É como sol de solstício
Em dias nublados do Sul;
Por mais que se faça sacrifício,
Jamais reluzirá sob o céu azul.
 
É como água de correnteza
Que de repente se acumula no remanso;
Perde a força e o brilho e a beleza,
Gira e se debate sem avanço.
 
É como luz de perfumadas velas,
Paralelas às luminárias artificiais;
Ofuscadas e sem calor, embora belas,
Mal esfumaçam os vitrais.
 
Ainda assim, ser intenso é preferível
A se asfixiar no desconforto
Do viver no raso da superficialidade.
 
A dádiva da vida é dom plausível
Que se realiza nos intervalos;
Tanto mais lúdicos na intensidade.