Está fazendo falta
O livro Vidas Secas do Graciliano Ramos
A cadelinha Suzi que tanto nós amamos
O som da Ave Maria vindo do campanário
Minha mãe dedilhando as contas do rosário
Fogo, fogão, foguinho do pular a corda
Meninas felizes em cantigas de roda
As peladas na rua com a bola de meia
Numa praia qualquer um castelo de areia
O canto das cigarras em tardes de verão
As velhas historias vindas do sertão
Um seresteiro triste na alta madrugada
Do primeiro amor a foto amarelada
Nos dias quentes os banhos no riacho
Carrinhos de rolimã ladeira abaixo
Jogo da amarelinha na calçada
A adolescente de saia plissada
Na brisa mansa empinar um quadrado
Na cama de molas o colchão empalhado
O velho benzendo para curar quebranto
A boneca de trapo esquecida no canto
Lacrimosas novelas no radio de galena
Tardes modorrentas na cidade pequena
Pesca de vara no lento riozinho
Domingo matinê, torcer pelo mocinho
No forno a lenha o pão assado pobre
O caldo de rapadura no tacho de cobre
O furto de laranjas no quintal vizinho
Ovos se abrindo, nascendo passarinhos.
Assobio do saci nas noites da roça
Esconder-se da chuva na palhoça
Na noite festiva sapatear catira
Entornar um quentão com sucupira
No circo mambembe chorar como criança
Ter “Filhos de Ninguem”, como lembrança
Ver palhaços a repetir velhas piadas,
Uma plateia derreter em gargalhadas.
Tanto tempo faz ou, não é bem assim?
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