Sempre vi a primavera, dócil e chuvosa!
É para mim, sinônimo de beleza e perfume!
Primavera é uma estação cheia de cores e dengosa,
Se fosse mulher, quem dela não teria ciúmes?
 
Mas a primavera que estou vivendo,
É motivo de espanto ao vê-la furiosa,
Não é aquela a quem sempre me rendo,
E que dedico tributos de odes maravilhosas,
 
Ao ver diante dos meus olhos a fúria avassaladora,
Do vendaval incomum que a tudo destruía, tremi!
Onde está aquela docilidade primaveril cheia de colorido,
E a paz de criança dormindo embalada ao som de: Dó, ré, mi!
 
Está a natureza a se revoltar com as agressões sofridas?
Se estiver dou-lhe mil razões por reagir desta forma mostrando revolta,
Para que a humanidade pare e medite ás atitudes irrefletidas,
Ainda tem tempo de não entrarmos por um caminho sem volta.
 
O que será das praias de sol causticante, se não houver verão?
Como será o deprimido outono que promete momentos de enlevo?
E o inverno onde se lançam modas e onde as mulheres causam sensação?
Pensem muito e depressa, porque prever o futuro, não me atrevo!
 
Ah! Como me lembro das festas da primavera na Quinta da Boa Vista!
Barracas enfeitadas de flores, moças vestidas de roupas coloridas,
Os casais de namorados de mãos dadas, orgulhosos de amor, à suas conquistas,
Completavam junto com a meninada a aquarela, a hoje, memória de nossas vidas.
 
Onde estais ó Primavera do meu passado,
Sem ti, estará faltando um pedaço de mim!
Não terá a humanidade, o futuro tão sonhado?

Será da Primavera o começo do procurado fim?