Observo a lua cheia em seu pálido esplendor,

E relembro de tudo aquilo que foi perdido...

Tragado em um turbilhão de desventuras, eis-me proibido

A conquistar, novamente, a intensidade daquele amor...

 

Encaro-me a mim mesmo (do passado) ao reflexo do espelho

Sem encontrar a minha própria identidade.

Posto que eu julgava que amaria por toda a eternidade,

Alguém que não me ama mais e me sangrou em vermelho...

 

Não me ama mais e, em verdade, nunca sequer me amou.

Encaro, amargurado, a luz da mórbida lua,

Imaginando se tudo seria glória ou desastre e o coração recua

A um tempo em que teria consertado o fato que nos arruinou.

 

Mas o tempo é nosso nêmesis, mortal e inexorável inimigo.

Além de cultivar o esquecimento, vai amadurecendo algo novo.

Faz com que certas coisas que nasceram, sequer tenham saído do ovo...

Assim, não tenho a ti ao meu lado e nem estás comigo...

 

Noite gélida a qual me faz recordar noites de falsa paixão,

As quais me fizeram provar o fel do abandono e desespero.

Banqueteou-se do meu coração e a crueldade foi o tempero,

A salpicar no íntimo de meu ser e engolí-lo na escuridão.

 

Este amor que eu relembro por lampejos sob este luar,

Foi, talvez, aquela única vez, em que, de fato, se ama...

Restaram as mágoas de uma existência sem vida, sem chama,

E, embora tenhamos prosseguido, não sou mais capaz de amar...