Sabe quando se quer abraçar o planeta
Mas seus ossos são curtos demais, e suas pernas
Cambaleiam, suas palavras titubeiam? Não?
Nunca sentiu vontade de voar, ser um avião,
Se fragmentar, numa colossal explosão
E, como água vívida, encharcar todas as coisas?
Ser um peixe, uma ave, principalmente um camaleão...?
Mas não se pode nem pensar direito, e como se uma rolha
Tapasse o vinho das falas, a boca se encolhe em um grão...
Quem foi o deus que nos encheu de vontades,
Nos mimou e enfiou em nossa ideia que éramos importantes?
Para depois nos negar as asas, as garras, o poder da mente?
E para nos enganar (por amor?),
Nos fez imaginar plásticos, aços, hélices?
Arremedos de asas, arremedos de garras, arremedo de mente?

 
 

Lucilla Guedes
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