RECORDAÇÕES -(O velho fogão à lenha)- CONTO -

RECORDAÇÕES -(O velho fogão à lenha)- CONTO -


                                       Era uma fria manhã de Junho. O orvalho noturno adornava a natureza que brilhava com os primeiros raios solares. Talvez devesse ser uma data especial, principalmente quando a gente completa mais um ano de existência, e esse era o plano para aquele dia, porem nem sempre nossa vontade é atendida. O esforço para ser feliz está em nós e, felicidade, penso que seja uma busca incessante de sensações que nos agradam e que sejam duráveis, coisa que, na prática é impossível de alcançar, mas a gente tenta e algumas vezes se arrebenta, pois nem tudo que nos agrada traz esse estado sublime da alma para nosso coração, que convenhamos é um órgão muito exigente nesse quesito.


                                       Os momentos de felicidade nunca são plenos, pois sempre falta alguma coisa que não sabemos o que é e isso é o suficiente para que eles desapareçam tal como vieram e então ficamos com a sensação de perda ou abandono inexplicável. Porque isso acontece? Difícil a resposta, mas a gente continua procurando e nessa busca muitas vezes retornamos no tempo para relembrar passagens que nos trouxeram um pouco dessa alegria passageira que consolam nosso coração de forma momentânea. Nessa fria manhã de minhas lembranças o objetivo era demolir um velho fogão à lenha que ocupava grande parte da cozinha de nossa casa, pois estávamos entrando na era do cozimento a gás e meu pai adquirira o precioso objeto para ser instalado se possível naquele dia ainda. Minha mãe, uma portuguesa arretada decidiu que removeríamos o agora obsoleto “cozinhador de gororoba” à marretadas, porem estávamos eu, ela e minha irmã de nove anos em casa, então seria uma empreitada difícil.


                                        O “dinossauro” de fogo ficava próximo à porta de entrada da cozinha, então mamãe pegou uma marreta, uma cunha de ferro e partiu pra cima da “criatura” com ferocidade jamais vista em uma senhora do lar. O revestimento do “monumento” foi pulverizado em minutos ficando à mostra os enormes tijolos que compunham seu “maciço esqueleto”. Esses tijolos que pesavam cerca de dois quilos cada um iam sendo retirados pela minha “Lusa Heroína” e eram arremessados junto à porta para que eu e minha irmã pegássemos e levássemos para o quintal. Havia uma sincronia entre nós para que não acontecesse um acidente, mas, como acidentes acontecem, por isso são chamados de acidentes, eu me apresentei como a vitima da vez.  Uma pequena distração de minha parte foi suficiente para receber o impacto de um daqueles pedaços do “moribundo dragão” justamente no meu dedo “fuck you” que imediatamente roxeou sob a regência de meus gritos de dor em si bemol (hehehe-nota: como alguém pode rir numa situação dessas?) e o inchaço instantâneo, pqp, ainda me recordo disso, devo ser sádico para ter essas recordações e achar que são motivos de felicidade.


                                       Na verdade a felicidade é a lembrança de bons tempos de minha pré-adolescência. Depois de muitos aiaiais e o esgotamento lacrimal a famosa “erva-de-Santa Maria” macerada com sal e álcool entrou em cena para garantir o restabelecimento de minha “pata” dianteira (hehe) o que felizmente ocorreu em cerca de quatro dias. Por conta desse pequeno acidente foi adiada minha primeira excursão à capital paulista, que ocorreu no ano seguinte, onde fiquei residindo por cerca de dois anos e pude aprender muitas coisas em um ambiente totalmente adverso de onde nascera.


                                        Penso que as recordações de coisas que seriam insignificantes para muitas pessoas na verdade compõem o universo de minha existência nesse maravilhoso planeta chamado Terra e são partículas indispensáveis para que possamos juntar no infinito quebra-cabeça que é a nossa vida.  
 
Pedro Martins
25/06/2015    

 

Recordações... mais uma vez relembrando a infância e pequenas passagens que proporcionam
momentos bons que já vivi...compartilho com quem goste ou se interesse pelo cotidiano de um sujeito comum...heheheh...

Pitangueiras, voltando no tempo...

Pedrinho Poeta - Pitangueiras-SP-
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