A essência pudica dos sonhos

Neste instante estou carente
De alguém para me fazer visível
E de quem eu possa enxergar pelas mãos
A textura sedosa de sua pele
A circunferência sinuosa de seus olhos.
 
Nesta vida de efêmera eternidade
É urgente que um sopro de humanidade
Avolume-se na minha carcaça física
E me desloque deste lugar comum
Para que eu possa enxergar pelas mãos
O arco-íris lírico dos sentimentos
A essência pudica dos sonhos.
 
Neste intervalo involuntário e imperceptível
Que há entre os ideais e a realidade
Tem-se que ter alguém por perto
Para nos livrar do inexorável medo
Para que a gente sinta o pulsar
Das artérias, da matéria e das velas
Que sustentam o mastro do viver.
 
Hoje, acordei desconfiado de minha insignificância
E assustado com a indiferença universal,
Que se nos apresenta descomunal
Mascarada pelos atos teatrais dos humanos.
 
Por isso quero alguém para enxergar com as mãos
A textura sedosa de sua pele
A circunferência sinuosa de seus olhos
O labirinto estreito de sua emoção
O abismo paradoxal de sua razão
E a doçura angelical de seu sorriso.