Hominídeo in sapiente

Hominídeo in sapiente
 
Um dia
Os deuses que fizeram
O céu e a terra
Acabaram a guerra
Da criação. E disseram
…faça-se o homem
À nossa imagem e semelhança…
E o homem nasceu
E quando cresceu,
Ainda menino,
Apagou da memória
Tudo o que era divino.
 
E viu que era bom.
E com esse seu dom
Quis conhecer a criação
Desde o embrião
Até à última forma.
E viu que nada era
Conforme a sua necessidade
Estética e esotérica.
E lançou-se na frenética
E tempestuosa impiedade
De mudar tudo a esmo
Como se o tudo,
Fosse ele mesmo.
 
E rasgou a terra,
sangrou os rios,
consumiu  florestas,
arrasou montanhas.
Nivelou horizontes,
secou fontes,
E extinguiu espécies
Porque não eram úteis
Às suas idéias fúteis,
Muito mais que irrisórias
Pois eram memórias
Vazias e ilusórias!
 
Um dia
Os deuses acordaram
E acharam
Que tudo tinha limite.
Basta! Disseram.
E em nova guerra
Eliminaram o homem
Da face da terra!
Afinal o homem não era Deus
Era apenas uma projeção
Dum dedo da sua mão!

Ezequiel Francisco
© Todos os direitos reservados