Palavras são ilhas,
Emersas do fundo da escuridão,
Suas matas pujantes de significados.
Juntas, formam arquipélago,
Uma constelação a brilhar
Contra a noite escura.

Trazem em seu bojo
Arcanos de outras eras,
Sobras de cantos ancestrais,
Soprados outrora
À beira de inumeráveis fogos.

Carregadas por arcas
Abarrotadas de seus sentidos,
Crescentes e mutantes,
Seguem rio abaixo
Pela memória das gerações.

Minhas palavras são-me de empréstimo, fugazes e temporais. Posso mastigá-las à vontade, regurgitar suas geometrias de som, como um escultor com a boca cheia de projetos. Mas uma vez soltas, pairam no ar, obras sonoras livres da minha tutela. São compartilhadas em coletivo, vírus, infecção que recebo e repasso descuidadamente.

 

Uriel da Mata
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