Pedro Fervor era bom moço.
Vivia no escasso Sertão.
Tinha marcas da vida em seu rosto,
De sua frequente humilhação.

Pai alcóolatra descontrolado,
Mãe prostituta por opção.
Vida normal no humilde Serrado,
Acostumado com caos e destruição.

Pedro Fervor, pedreiro com treze anos,
Via sua mãe apanhar diariamente.
Mas não desistia de seus planos,
Fugir, e tentar viver dignamente.

Decidido, Pedro juntou um bom dinheiro,
Pegou um ônibus e foi para São Paulo capital.
Com o sonho de se tornar um engenheiro,
Deixando o passado no umbral.

Logo descobriu que outros tantos,
Tinham o mesmo pensamento.
Outros que estavam lá a anos,
E viviam apenas de sofrimento.

Um dia seu passado retornou.
Foi a um prostíbulo espairecer.
Pela prostituta se apaixonou,
E no trabalho, não a deixou permanecer.

Seu nome era Joana Juliana,
Linda moça de cabelos castanhos.
Com ele se tornou uma pobretona,
E reduziu quase todo seu ganho.

Cansado de passar dificuldade,
Pedro Fervor se afundou na bebida.
E descontava com crueldade,
Sua raiva em quem já chamou de "querida".

Com todo o dinheiro gasto com seu vício,
Deixou a mesa sem comida.
Joana precisou fazer um sacrifício:
Atender ex clientes e ver sua vida destruída.

Quando Pedro Fervor ia trabalhar,
Joana Juliana ia se arrumar.
Após o trabalho, Pedro ia se embebedar,
E Joana, se limpar.

Um dia Pedro resolveu não beber.
Voltou mais cedo para casa.
Encontrou Joana nua, a se oferecer,
Para um Italiano conhecido por Pazza.

Pedro pegou sua peixeira trazida do nordeste,
E não titubeou.
Esfaqueou loucamente o cafajeste,
E sua cabeça arrancou.

Joana Juliana estava desesperada.
Tentando explicar ao seu marido sua condição.
Ele não quis ouvir, e em sua barriga deu uma facada.
Joana gritou por dor no coração.

Chorando, disse: "querido, estava grávida.
Em sua bebedeira, deixou faltar alimento.
Queria nosso filho saudável,
Para te tirar de seu sofrimento."

"Agora serei enterrada com nosso filho.
Será um peso para você carregar.
Você se tornará um andarilho,
E de nós, sempre vai lembrar."

Joana Juliana fechou os olhos.
Uma última lágrima escorreu.
Diante daquela horrível cena,
Por dentro, Pedro também morreu.

Não podia viver com essa dor.
Saiu rumo ao edifício que trabalhou.
Chamou Deus de traidor,
E lá do alto se atirou.

Matheus Cintra
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