Nasci no alto da serra
Bem na sua descambada
Gostava de minha terra
Não a deixava por nada
 
Toda a tarde eu descia
Para ver a minha amada
Minha querida Maria
Esperava-me na calçada
 
Entre beijos e carícias
Consagrava o nosso amor
Numa tarde traiçoeira
Sofri a mais triste dor
 
Chegando a sua casa
Meu peito estremeceu
Sua família chorava
Minha Maria morreu
 
Maria doce Maria
Eu quero partir contigo
Perdi a minha alegria
Esta dor é meu castigo
 
Voltei pro alto da serra
Minha morte planejei
Pus algo na bebida
E para a boca levei
 
Alguém me arrebatou
Dando-me uma lição
O líquido se derramou
Eu vi minha morte ao chão
 
Abrindo os olhos chorando
Vi ao meu lado Maria
Subindo em alto vôo
E de mim se despedia
 
Adeus Maria querida
A ti eu peço perdão
Salvaste a minha vida
Levando o meu coração
 
Sou uma alma sofrida
Na serra do meu sertão
O líquido em meus olhos caiu
Nem vejo o céu nem o chão
 
Perdi a minha visão
Sou um cego conformado
Pois sinto que ela está comigo
Vejo seu vulto ao meu lado
 
Eu sei que me acompanhas
E guardas pra mim um lugar
Sinto em minhas entranhas
A sua boca a me beijar
 
Nosso amor foi consagrado
Por ordem do Criador
Unir-nos-emos no céu
Ressuscitando o amor
 
Hei de beijar-te outra vez
Quando da terra eu partir
De olhar limpo talvez
Só olharei para ti
 
Beijos, beijos e mais beijos
É o que posso te dar
Hei de matar meu desejo
Quando no céu te encontrar.

MARIA AGLAIDE NEVES
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