Noites sem Fim

 Há quem vague
 por uma noite cigana.
 E esconde seu mais íntimo desejo,
 como se o guardasse
 por detrás do luar.
 Há quem se utiliza
 de palavras de amor,
 para depois se fazer fugitivo,
 e se ocultar.
 Há quem fuja das próprias emoções,
 tornando-se distante,
 vestindo-se de inatingível,
 quando em verdade
 desejaria compartilhar.
 Há quem engane, e engane-se,
 com um sorriso bordado,
 fingindo satisfação,
 mas que, quando só,
 perde a razão
 e tem vontade de se matar,
 para depois sucumbir ante a sensatez,
 e fazer-se vivo,
 e querer muito viver.
 Muitos são os viventes
 que sonham na solidão,
 que gritam em seus silêncios
 suas dores contidas.
 Que constroem fortalezas
 com os escombros dos seus corações,
 onde pronunciam palavras que,
 de tão amargas,
 se fazem impróprias.
 E então vivem caladas
 ante portas fechadas,
 com trancas e cadeados,
 pois causam vergonha.
 Melindram o pudor,
 pois que não são palavras,
 mas versos caóticos,
 letras solitárias
 que perderam o sentido.