Hoje eu não queria falar, apenas Te ouvir
pois, não tenho palavras, a voz está embargada
o coração está apertado
os pensamentos se perderam no labirinto da vida
zumbidos me atordoam
meu olhar contempla o infinito
aflito busco a tua presença
um errante me sinto, alma aflita
corpo cansado, espirito amortecido
mas é preciso falar, desabafar
descarregar os sentimentos
aliviar o coração, mas, não sei como...
do roteiro da vida não sou o escritor
palavras não expressam
amigos, talvez, não me entendam
da minha vida não sou o senhor
ando preocupado, quem sabe, em demasia
com um amanhã que não me pertence
mas não é isso que eu queria...
queria viver contente, sorrir, ter alegria
mas como, se o mundo me assusta!
onde o futuro é um sonho incerto
e eu incapaz, sedento, no deserto
mesmo acompanhado sinto-me solitário
tenho esposa, tenho filhos, tenho netos
ansiedade, coisas do meu imaginário?
por certo...
fechei a porta do banheiro
observei meu rosto no espelho
o tempo havia passado ou eu passei pelo tempo?
não aguentei a resposta
o peso da vida me dobrou a coluna
marcas apareceram, poucos cabelos restaram
o espelho não mentia, era verdade o que eu via
reflexos do mundo em que eu vivia
me equilibrei na linha do tempo
na família me apoiei...
não sou capaz de resistir
entreguei o que a vida exigia, fui amparado
estava fraco, mas Tu me fortalecia
não me sentia mais estranho
em tuas mãos meu cansaço ficou
o que foi perda agora era ganho
o frescor da vida outra vez eu sentia
foi quando ao barulho da água do banho
com olhos fechados eu apenas refletia
uma lágrima incontida, insistente, escorria
não pelo rosto mas pela alma que sofria
mas meu espírito como uma chama reacendia
e num ímpeto à tua presença me trazia
toquei em Ti e me senti envergonhado
desde o ventre perseguido
quando homem, escarnecido
nenhum gesto ou em palavras lamentado
eras rei contudo fostes humilhado
não tinhas onde reclinar a cabeça
com coroa de espinho coroado
morrer na cruz fostes destinado
mas a vida que agora eu tinha
a Tua morte foi o resultado
como estar abatido e me sentir um derrotado?
contemplei Tua vitória e fiquei aliviado
encontrei o que eu queria...
ao barulho da água do chuveiro que caía
vi que a névoa que me encobria
como por encanto havia se dissipado
da fraqueza brotou alegria
quando das profundezas do meu ser
Teu nome invoquei
a eternidade em um momento eu toquei
o que estava velho em um instante se refez
como de um sonho eu voltei
de um inocente bilhete me lembrei
o velho se tornou criança, senti da vida o fulgor
vi o bem que um sorriso faz
balancei minha cabeça
o frescor da vida respirei
lembrei do dia agitado
do trabalhar sem ser remunerado
do corpo as angústias eu lavei
sai renovado...
mágoas e tristezas
nas águas do banho ficaram
enxuguei o meu corpo
e o espelho novamente encarei
vi refletindo a alegria de um coração aliviado
a vida agora era um presente o passado ficou para traz
o futuro firmou-se na esperança
de aprender a viver contente
sofri a pressão do mundo, senti a força que ele faz
embora posso ter tudo, mas só Tu me satisfaz
pois tudo em minha volta se mostrou ineficaz
do jeito que a vida humilha a tua vida enaltece
foi quando lembrei daquele que de mim nunca se esquece
a liberdade veio em Teu nome através de uma prece
embora os problemas me cerquem
vencê-los em Deus sou capaz...

Zeca Moreira
© Todos os direitos reservados