Desde o dia que partiste
Sou menos que um morto triste
Chegando ao seu sepulcro
Vendo que já não existe
 
E nas entranhas da terra
Em pranto se lastimar
Sem ter lá um só amigo
Que o possa ajudar
 
A voz cala na garganta
Não pode a dor suportar
Sua alma lhe consola
E pede pra não chorar
 
A sua dor é tão grande
Por ter sido abandonado
Sem dó e sem compaixão
Por outro alguém foi trocado
 
Eu que vivia somente
Para fazer-te feliz
Realizei os teus sonhos
O que querias eu fiz
 
Dediquei-me inteiramente
A todos caprichos teus
Por ti empenhei anéis
E tudo que era meu
 
Dei-te um lar confortável
Carro de primeira linha
Teu traje era riquíssimo
Trajavas como rainha
 
Tirei-te de uma sarjeta
Fiz de ti uma senhora
Depois que ganhaste fama
Com outro foste embora
 
Que gratidão esta tua?
E que alma negra tens
Deixar chorando tristonho
Quem só te fez tanto bem
 
És tão cruel, não tens pena
Do homem que te refez
Tu eras lixo de rua
Viraste gente outra vez
 
Não penses ter privilégio
Por possuíres beleza
Os anos traz a velhice
A feiura e a tristeza
 
Um dia tu pagarás
Pela tua ingratidão
Hás de ser pisada a pés
E outra vez ao lixão
 
Assim reconhecerás
Que tudo aqui não é nada
E quem bem faz pra si é
Beleza e poder se acaba.

MARIA AGLAIDE NEVES
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