Eras tão bela... Magnífica, um abrigo para a tempestade...

Havia em ti (pelo menos essa era a impressão) um santuário.

E tinhas o poder de amenizar toda a tortura do calvário

Com tua simples, mas avassaladora e estranha majestade.

 

Quando te encontrei após tantos anos de busca, me perdi.

O mundo que eu enxergava deixou de ser preto e branco

E minh'alma avançou em sentimentos místicos em um arranco:

Vez primeira em que eu, de fato, vivi...

 

Em tudo eu me encantei. Eras a única, a última princesa!

Eu carreguei fardos imensuráveis para te encontrar e encontrei;

Quando ocorreu isso, um abismo se abriu, no entanto e tombei

Em miasmas de fantasias irreais... Reinos sem beleza...

 

Morreste. E na noite sem estrelas, nem teu vulto enxergo no breu...

Sinto o odor do esquecimento a entorpecer minhas memórias

E mitos e ilusões se transformaram em uma simples história...

Morreste e eu, embora, vivo, sei que o que fui também morreu...

 

Tua alma se dispersa aos ermos do nada como a fumaça de um cigarro.

Teu corpo é avidamente violado e devorado pelos vermes...

(Onde está a beleza primeira!? Enganei-me em ti!? Ó! meus sentimentos inermes!).

Vi a suprema torre de marfim despencar em um oceano de barro...

 

Em tudo agora há uma espécie mórbida de atroz silêncio...

Olho para ti e vejo claramente o espetáculo do voo do cisne...

Mas, súbito, uma treva! Uma mistura do negro com o tisne

Esvoaça aos meus olhos e o real que vi... Quem vence-o?

 

Vi... Eu vi a verdade...! Eu pude ver a verdadeira e feia cor...!

Morreste... Estás morta e apodrecida minha musa!

Enganei-me de fato: Não eras Afrodite e sim, Medusa...!

O que morreu, em suma, não foste tu e sim, o meu amor...