O VERDADEIRO AMOR-(conto)-

O Verdadeiro Amor
 
A sabedoria divina está presente em cada minuto de nossa existência terrena e cada ser vivente, seja humano ou animal nasce com a essência do Criador e mesmo que se esforce na ociosidade, nunca conseguirá fugir de seu destino. Lívia era uma criatura simples, de traços quase perfeitos, olhos bem negros que contrastava com a palidez de sua face alva, os lábios volumosos deixavam transparecer a bela dentição dando a ligeira impressão de que ela estava sempre sorrindo. Os cabelos também negros e extensos atingiam abaixo de sua cintura esguia e bem delineada, colírio para os olhares masculinos que a seguiam por onde passasse. Henrique, um belo mancebo, no vigor de seus vinte anos era a paixão secreta de Lívia. O rapazola, dono de dotes físicos privilegiados, filho de família conservadora desde pequenino fora introduzido no meio cristão e cursava o ultimo ano do seminário para se graduar como sacerdote. Lívia por sua vez, havia iniciado o estágio final de seis meses para assumir o cargo de enfermeira junto ao hospital da cidade. Conheceram-se numa festa da paróquia onde ela fora voluntária na confecção e arranjos dos enfeites do recinto. Henrique, supervisionado pelo padre Saulo ajudava nas tarefas mais pesadas da preparação dos festejos já tradicionais daquela congregação. Trocaram alguns olhares e a chama da paixão brotou naqueles corações, que se mantiveram discretos, sabiam da impossibilidade daquele sentimento, Henrique em breve estaria conduzindo o rebanho de fiéis da comunidade. O tempo passou, Lívia sufocava o sentimento trabalhando em prol dos enfermos e desvalidos que chegavam a sua presença e muitas vezes se locomovia até as residências dos necessitados levando apoio e conforto material, era uma verdadeira cristã. Henrique seguia firme em suas convicções de servidor do Cristo, empolgava os freqüentadores da pequena capela com palestras emocionadas e tocantes no aspecto moral e religioso, contava agora com vinte e seis primaveras e a fisionomia senil que adquirira ao invés de depreciá-lo, ao contrario, o tornara mais atraente para as moçoilas que freqüentavam os cultos dos finais de semana. Lívia já passara dessa fase, e a paixão que sentia pelo rapaz diminuíra em intensidade. Ela amadurecera com o passar do tempo e o desejo cedera lugar ao amor verdadeiro, jamais se relacionara com alguém, não que lhe faltassem pretendentes, mas, assim como seu amado, Lívia se entregara à profissão, na verdade, mesmo sem estarem juntos eles se completavam, enquanto um socorria os desvalidos da matéria o outro acolhia as almas em desequilíbrio. Encontravam-se freqüentemente e as conversas eram rápidas, porem sempre de conteúdo edificante. O Amor verdadeiro é uma conquista espiritual, e abrange muito mais que o sentimento que comumente chamamos de paixão, um sentimento mesquinho que determina a posse de alguém ou alguma coisa. Lívia e Henrique jamais se aprofundaram no relacionamento, mas a maneira como se olhavam causava os costumeiros murmurinhos entre as pessoas de baixo nível moral da comunidade. Não se importavam com os falatórios, eram muito responsáveis e naqueles olhares eles compartilhavam uma energia tão intensa que seria impossível descrevê-la em nosso pobre idioma de seres humanos, podia-se dizer que eram seres transcendentais vivendo em corpos humanos para demonstrar o verdadeiro poder de um sentimento muito maior que a nossa limitada capacidade de compreensão. Envelheceram juntos, Lívia e Henrique se amavam, de verdade, sabiam disso, sentiam isso, mas fizeram a melhor opção de suas vidas, ao invés da junção carnal, preferiram a união espiritual, essa, eterna, abençoada pelo próprio Cristo...
 
Pedro Martins
15/04/2011                      

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