M E T A M O R F O S E ( CONTO )

M E T A M O R F O S E  ( CONTO )

 
Ao entrar, em gestos, a moça seminua, insinuou que o jovem se despisse e ficasse à vontade, embora delimitado o tempo, o pagamento dava-se por intervalos preestabelecidos. Pacientemente, esperava-o, tenso pelo inusitado de ver-se nu diante a uma mulher, a primeira de sua iniciante vida sexual , atrapalhava-se com o despir-se, enredado nos cadarços do sapato, envolvido com as calças presas às pernas. Displicentemente, olhando evasiva pela janela, cigarro acesso à mão, aguardava o cliente atrapalhado desembaraçar-se.
 
  Aquele talvez fosse o maior dos constrangimentos experimentados por aquele rapazote, as faces ruborizadas lembrando um menino encrencado. Por que, raios, tinha sempre que se atrapalhar para tirar as roupas, e por que ela não o ajudava, ao invés de permanecer impassível, distante, olhando por aquela janela, como se ele não estivesse ali ?  Afinal, por que não poderiam começar assim mesmo, o importante não era tirar os sapatos, eles não iriam participar do romance, bastaria abaixar as calças...
 
Enfim, despido, de meias, parecia um frango novo e depenado, envergonhado de sua inexperiência, observado por aqueles olhos vivazes e displicentes, como se ele estivesse disponível e não ela. Queria terminar o quanto antes e sumir dali, cheio de pejos e autocensuras, as emoções desencontradas não demoraram a se manifestar, arrefecendo os desejos do cliente, ainda mais envergonhado de sua visível impotência. 
 
 Algo haveria de quebrar o gelo, senão seria perda de tempo, dinheiro gasto à toa. Será que ela não lhe daria uma ajuda, o carinho de uma carícia, algo que reativasse seu desejo maculado pela timidez ?
Os olhos falavam tudo, um mudo pedido de socorro. Nem poderia imaginar um eventual fiasco de sair dali sem concluir seus intentos masculinos, seria uma derrota, um trauma inesquecível.
 Um meneio de sorriso dela, entendendo o embaraço, nem precisava perguntar se era a primeira experiência, estava evidente que sim. Não seria o primeiro de seus clientes novatos, alunos de sua maestria profissional, tinha a malícia e vivências necessárias para levá-los ao paraíso, no divisor de águas entre a infância e a fase adulta. Aproximou-se daquele  jovem  arrepiado, uma criança crescida e assustada.
 
O calor da proximidade, o hálito de canela da cigarrilha, misturado ao perfume suave, o contato da pele feminina e quente, quebravam resistências, fazendo-o renascer nos anseios que o trouxeram ali.
 Como um boneco, sem saber exatamente como agir, cedeu ao abraço da meretriz, enlaçando-a, também, como se dançassem, embora não tivesse nenhuma música sendo ouvida.
 Nus, enlaçados, a suavidade da fêmea encostada em seu peito, justaposta a ele, dando-lhe um abrasador desejo de possuí-la. Assumia o controle da situação, despida de vez a incômoda timidez, na posição viril de macho, tomando a dianteira, apertando-a freneticamente. Vulcão em erupção em lavas incandescentes lábios que  buscam, insaciáveis, como degustando, literalmente, aquele momento tão aguardado, cheio de mitos e fantasias.
 
 Acompanhou-a deitando-se ambos, embrenhados, como se fossem antigos amantes, na volúpia do prazer. Ela o conduzia pela experiência e ele sentia-se no maior dos gozos, como em um parque de atrações de brinquedos radicais.
  Os doces seios da  fêmea, enriçados e túmidos de tesão,antes apenas imaginados, alimentavam os apetites com os cheiros dos suores dos corpos, nas mãos atrevidas, curiosas devassando em incursões íntimas as genitálias. A mente juvenil alçava voos, na conquista da sereia idealizada. Era toda sua, um brinquedo interativo, a responder lascivamente as carícias, num mergulhar de sensações...
 
Paraíso profano, impudico, sem censuras e limites, apenas o deleite de corpos tensionados em desejos, êxtases, sonhos, delírios...
Quatro paredes como testemunhas do intercâmbio entres Seres que se roçam, entrelaçam, permutam fluídos, transpirações, odores, se acoplam, completam, se inteiram.
 Entes no cio, em gemidos, sussurros, entregues se deixam sem pudores. Se desejam, se comem, se mexem, invertem, inventam,
 se consomem, deleitam-se, aproveitam e compartilham.
  Embolam-se, mesclam-se, deliciados, exaustos, satisfeitos, adormecem...
 
  Semelhante a um  laboratório de experiências, por aquela porta entrou um garoto assustado e tímido, por ela sairia um homem realizado e confiante...
 
*CONTO PUBLICADO EM LIVRO NA ANTOLOGIA TEMPO DE TUDO, EDITORA CÂMARA BRASILEIRA DE JOVENS ESCRITORES, CBJE, RIO DE JANEIRO/RJ, EDIÇÃO SETEMBRO DE 2011
 
 
 
 
 
 
 

 

** Publicado em livro em antologia de contos, editora CBJE, Rio de Janeiro, RJ.