Ah! doce recordação que me persegue nas esquinas, ruas, avenidas,

Na minha veste, no velho diário, na minha vida,

recordação fechada na gaveta de mansinho, apertada dentro de um maço e amarrada centenas de vezes com carinho...

Ah! doce recordação que me persegue, cujas pétalas são da flor que não nasceu,

tamanho oceano que finjo, que não vi, porque embora todo infinito, não foi meu...

Morra no tempo, pois que é breve.

Morra no vento, pois que é mudo.

Morra no ventre, pois que é estéril,

embora o coração se negue a tudo.

Morra na boca, pois que é tumba.

Morra no sono, pois que é morte,

embora a alma acorrentada, forte.

Morra em tudo que redunda em vida...

naquel dia, quando rompeu-se o elo,

volte atrás e cumpra a despedida!

Ah! doce recordação que me persegue e mais que nunca vives.

Quero amarrar teu doce encanto em cordas

para que não solte esses teus braços livres

ou toda tua poesia se fará presente

como loucas que desfilam pelas ruas.

Indomáveis, sedutoras.

Nuas.

Elisabeth Camargo Martello
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