MEU AMIGO DE INFÂNCIA I

Como é que vai, meu amigo,
Como você tem passado?
Venha escutar o que eu digo
Sentado aqui ao meu lado!
Hoje meu peito palpita
Na expressão mais bonita
Que consegue um coração
Se aguçam nossos sentidos...
É que estamos reunidos
Em confraternização.

Conta-me das coisas loucas
Vividas por este mundo.
Nossas horas são tão poucas...
Vivamos cada segundo!
Ah, se o tempo se esticasse
Como que nos abraçasse
Ampliando esta quimera...
Esta fé que nos ostenta
Tem trezentos e sessenta
E cinco dias de espera.

Mas quanta formalidade
Deram à criança que fomos!
Como dói a sociedade
Pro adulto que hoje somos.
Como é mesquinha a missão!
E só por esta razão
Infelizmente não pude
Trazer para a brincadeira
O pinhão, a baleeira,
A pipa e as bolas de gude.

Da SANBRA, o muro, não pude
Pular pra trazer goiabas,
Nem tampouco ir ao Açude
Velho pra trazer piabas...
Nem pude passar depois
No barreiro do arroz,
Onde costumava estar,
Pois gananciosos seres
Acabaram com os prazeres
Que um dia deixei por lá.

Não pude vir no “morcego”
De trem pois, pra ser sensato,
Foi que Wedson, esse “nêgo”
Disse que ficava chato.
Que tamanho eu não mais tinha,
Podia cair na linha...
Me impôs mil empecilhos.
Não é disso aí que venho!
E o pior é que tenho
Que dizer isso aos meus filhos.

Ah, tempo que leva e traz,
Destino que prende e solta,
Dê-me só uma vez mais
O meu passado de volta!
Em troca lhes ofereço
O que eu tenho; qualquer preço
Por um minuto da vida
Onde eu tive, com vaidade,
Meus tempos de liberdade
Na LIBERDADE querida.

Ah, quem me dera a bonança
De ter de novo essa aurora...
De voltar a ser criança
Por um minuto de agora.
Retornar, com privilégio,
Para os bancos de colégio,
Aos coleguinhas de classe,
Onde a gente se escondesse
Do tempo e ele nos perdesse
E nunca mais se passasse!

E ter você, meu amigo,
Puro e seguramente
Pra poder também, comigo,
Ser criança eternamente.
Viver sem lamentações,
Não perder as ilusões,
Nos homens manter a fé.
Iludido, mas feliz!
Sem prevê que este país
Um dia chegue ao que é.

Mas meu sonho na verdade
Não tá longe de existir...
É real pela metade,
Pois você está aqui.
Embora já crescidinho
Você vem trazer carinho,
A luz da sua presença.
Se um dia errei me perdoe,
Mas que Deus nos abençoe
Pra nunca haver diferença.

Muito obrigado por ter
Atendido ao meu chamado.
Por existir e viver,
Por hoje aqui ter chegado.
Pois neste mundo hoje em dia,
Onde em nada confia
E vê-se em tudo perigo,
É grande a satisfação
De apertar sua mão
E lhe chamar MEU AMIGO!


Campina Grande, 18 de dezembro de 1993.

(Composto no primeiro encontro dos amigos de infância do Colégio da Liberdade - Campina Grande - PB)