Escrevendo sou realista
Sei que me exponho a comentários
Mas de que vale a prosa senão o verso?
E em vão as bocas ruminam
 
Falo de amor e de rimas desmedidas
Escrevo sobre máscaras e o tempo
Sobre fotos e meu cabelo ao vento
E ouço críticas ao relento
 
Não me importa que não publiquem
Se por algum instante de um segundo
No meu partir do mundo
Alguém em sua infinita paciência as leiam
 
Se milagrosamente assim acontecer
Terá valido cada noite de inspiração
Os abusos ao pulmão, o desgaste da visão
E do artista, a humilde ilusão
 
De escrita simples um ser simples
Que arrogantemente ilusionário
Da viajem que se aproxima
O sentimento de querer dividir
 
O relógio daqui e Dalí
Marca covardemente as horas
O bilhete pago a cada dia impreterivelmente
Nos lembra, um a mais é um a menos
 
Urge a necessidade do agora
Tentar recuperar as perdas de ócios
Que a juventude derramou sobre a ponte
E que não moverão mais moinhos
 
Todos os relógios deveriam ser de ouro
Com os minutos em pedras preciosas
Os ponteiros do mais puro marfim
Para que valorizassem o dia nosso de cada dia
 
Quando jovens tentamos ansiosamente
Adiantar os pequenos e indefesos ponteiros
Na maturidade paramos inutilmente de dar corda
Como se o sentido do prosseguir fosse mudar
 
E para continuar a cada dia, tentar finalizar
Escrevo pedaços de mim, até dois
Para que no futuro me lembre de Quintana
Ao me pedirem pra falar um pouco sobre mim.