O Monge Marina
“E eu não sabia por que nome chamar...” – Grande Sertão: Veredas, G.Rosa
“Cada pecador comete o pecado à sua maneira” Ambrósio, o Monge.
 
História singular, ainda hoje lembrada
Os infortúnios de Marina, que virou santa,
Menina ainda perdeu a mãe, ficou só pelo pai criada,
E já chegando a idade de casar com isso não se encanta,
Mas por que é preciso casar? Ser igual a tantas?
 
“-Mas o que farei com você? Você é mulher!”
Última alegação do pai para tentar demovê-la...
Ledo engano, Marina está decidida, venha o que vier!
Hábito de monge troca e abandona as roupas de Mulher!
E com o pai segue para a vida monástica vivê-la...
Retira-se para ser monge no Qannoubine, como homem vão vê-la!
 
Há que trocar o nome! De Marina vira o Monge Marinho!
Os céus repetem sol e chuva por dez anos...
Morre seu pai e Marinho fica só, asceta, seguindo sozinho...
E a vida no mosteiro persegue sendo seu único cotidiano...
Mas o destino traça-lhe desventuras pelo caminho!
 
Mas um soldado romano, de nome Virgilius,
Uma noite seduziu a filha dum estalajadeiro,
Lá hospedados estavam de viagem a um concílio,
Humildes monges, dentre eles Marinho do mosteiro...
E soldado e moça combinaram ao proibido idílio
Rifar a Marinho a culpa, caso gravidez inoportuna, viesse por certeiro!
 
Há coisa mais traiçoeira que o fado?
Oito semanas depois, a moça conta ao pai que espera um filho
Mente que o pai seja o Monge Marinho, que lá fora hospedado...
E rápido o pai leva a filha às portas do mosteiro a pedir auxílio...
Mal o Abade ouviu a reclamação, exilou Marinho, o monge desonrado...
 
Mais dez anos se passaram, e Marinho em volta vivia
Um monge humilhado, e cuidava do menino como se seu...
Labutava na horta, e ninguém da verdade de seu gênero sabia...
Há, porém, o momento da epifania, e então aconteceu...
E um dia o Abade vendo a penitência que Marinho fazia
Reabriu-lhe a porta do Mosteiro, mas sob duras penas ali viveu...
 
Havia algum trabalho pesado? Era para Marinho, o monge do erro!...
Ocorre que um dia Marinho cai doente e depois de uns dias morreu...
Mestre Abade pediu aos monges cuidar do corpo para o enterro...
E surpresos descobriram que Marinho era Marina que como homem viveu!
Muito angustiados, pediram perdão pelo desterro...
 
Marina-Marinho...Marinho-Marina... Como aconteceu? Quem era?
Uma questão de gênero? Questionava-se o Abade...
Logo milagres foram atribuídos e à sua graça se pusera...
Homem? Mulher? Ele ou Ela? O significado da verdade...
E assim, fica dessa história para mim, o que se pondera...
Resta a ruptura do que se define por identidade...