Oh tempo, ampulheta de gravidade!

rouba em redemoinho, cada instante meu.

faraó-menino, o destino nasceu.

Vaidosa e curta é a minha verdade!

 

Olho de hórus para o futuro?

me protegerão, deuses em cada canto?

antropozooomrfos que de outro plano,

assistem-me a conquistar na vida este apuro!

 

Ver meu sonho que virá a existir,

planejar melhor vida em meu papiro

em hieróglifo, de frente não me viro,

Carrego nas corcovas o porvir.

 

Como o Nilo fertiliza o deserto,

 águas passadas, em cada momento,

tão curto é o período em que vivo no tempo,

grandes são os extremos, dos quais não estou perto!

 

Molda-se um passado duro, para um futuro incerto.

mas o presente também é miragem, areia movediça!

quanto mais feliz hora, mais a ampulheta cobiça,

me estrangula e para baixo, me esvai neste inverso.

 

Relógio de areia que não vira, que revolta!

Vivendo súdito, ao possuir esse ouro.

não poder no momento vindouro,

somar, nova chance, areia de volta!

 

Tanta memória, em pirâmide, se ergue,

No sarcófago, leve é o coração inocente,

que depois de morto, faz do tempo inclemente,

Múmia rememorada que me segue!

 

Não movendo sequer um grão de areia,

de sua duna, depois de formada!

Esfinge de resposta sempre negada,

que devora de saudade, minha vida inteira!

 

 

Guilherme dos Anjos Nascimento

Guilherme dos Anjos Nascimento
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