Brasil Invisível 1

 
Indígenas, favelados, idosos, crianças, mulheres, deficientes...
Desde o ‘encobrimento’ em 1500, a mítica – Pindorama, tida como “a terra sem males”, a história oficial se esforça em construir um verdadeiro país por nome Brasil.
Primeiro, para civilizar os ditos gentios, com sua auréola de progresso na tentativa de justificar a submissão das nações indígenas às empresas coloniais.
A estratégia de Pedro I, no afoito das intenções em abocanhar o poder lusitano na Europa, o fez estimar um certo plano “b”: a criação da ideia de independência: uma pseudo-mudança para a justificativa de manter o continuísmo do poder político lusitano em terras brasileiras.
Porém, depois do infausto de se empreender uma sistemática ação às gentes desta terra chã, outro disparate: a comercialização de humanos - eram os índios africanos que, para a então Coroa luso-brasileira ao tempo de Pedro II, se fazia vistas grossas até a imposição da política internacional britânica pressionar a elite administradora do Império Brasileiro para proceder com a libertação dos cativos na era dos oito (1888).
Já, nas barbas do século XIX, pode-se elencar em meio a tantos fatos ‘oficiais’ a dois casos cujos expoentes pode-se considerar o início de uma visão autocrítica à sociedade brasileira.
O primeiro exemplar é Cândido Mariano Rondon – militar de origem indígena (bororo/terena/guará) que teve por missão ser o interlocutor do projeto de expansão da rede de comunicação telegráfica aos rincões do centro oeste e norte do país, a região do extremo oeste brasileiro, ainda protegidamente selvagem tal qual como foi concebido biblicamente (considerado um paraíso terrestre) até os idos de 1500. Rondon é o primeiro indigenista (ou sertanista) no contato com as sociedades tribais ainda existentes àquela época.
O segundo exemplar é o caso do então jornalista e escritor Euclides da Cunha, cuja fecunda vertente literária (hoje) classificada por fase transitória entre o romantismo e realismo (História Concisa da Literatura Brasileira) tal como nos traz Alfredo Bosi.
 Nesta literatura, Euclides revela aos brasileiros um Brasil que o Brasil não conhecia: seu outro lado mais oculto, e por isso invisível. Desta visão, Euclides produz seu maior trabalho jornalístico-literário - a cobertura da Guerra de Canudos (1896-1897) no sertão baiano em Os Sertões (1902). Euclides também escreve sobre o Barão do Rio Branco (Peru versus Bolívia), além de conjugar suas análise sobre o sentido caricato do exército brasileiro pós-proclamação da República em A Espada e a Letra, dentre outras obras.

 

Luciano Roriz - ALCAI
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