O TEATRO DA DESINFORMAÇÃO
as luzes acendem-se bruscamente no silêncio do estúdio
de forma teatral e programada.
o espectáculo vai começar.
iluminado pelas luzes intensas e brilhantes,
quinhentos watts pelo menos
e nada fica como antes.
sentado atrás de uma grande mesa semi-circular,
está um homem sentado que nos dizem ser jornalista.
há um enorme mapa mundo atrás para nos situar
na cena prevista.
uma música de abertura, triunfante inunda o estúdio.
tudo a cheirar a bombástico, direi mesmo estapafúrdio.
o senhor jornalista até aí estático na cena,
como que à espera de receber uma qualquer ordem,
sorri e com um movimento de cabeça, acena
em sinal de compreensão.
sentado à esquerda do senhor jornalista está um senhor actor
perdão...
um senhor que nos dizem ser comentador,
seja lá o que isso for.
o senhor comentador apresenta uma expressão cerrada,
como convém à credibilidade de um senhor comentador.
não será de bom tom dar muita confiança à gente
que o vai ouvir.
pretende transmitir assim uma imagem de conhecedor e de inteligente,
de senhor sabe tudo de tudo.
está preparado para falar sem parar
e nem por segundos ficar mudo.
o tal senhor actor
perdão...
o tal senhor comentador,
ouve desatento a pergunta do senhor jornalista.
desatento porque a pergunta não lhe interessa.
porque já tem decorada a resposta que trás para nos dizer.
desatendo porque vai falar muito sem responder.
responder claramente a perguntas não!
não é para isso que o partido lhe paga
e assim neste tom continua a triste saga.
o tal senhor actor
perdão...
o tal senhor comentador,
com inesperada convicção,
começa a dar a sua opinião,
pretendendo convencer quem o está a ouvir,
porque infelizmente ainda há gente que o ouve,
de que ele e só ele tem razão!
o senhor jornalista como parte amorfa e integrante da cena
encomendada,
vai acenando automaticamente com a cabeça
em jeito de aprovação,
à não resposta do senhor comentador,
sem o mínimo pudor.
finalmente nós,
os por estes dois considerados estúpidos mortais,
perante opinião tão contundente,
ficamos com duas possíveis opções:
acreditar piamente
nas opiniões debitadas como lições
por esta gente...
ou o que devia ser mais normal,
desligar calmamente o canal
dessa desinformação
e resmungar com toda a sabedoria e convicção:
não filhos da puta
a mim
não me enganam!
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