4 - O TEATRO DA DESINFORMAÇÃO

O TEATRO DA DESINFORMAÇÃO

as luzes acendem-se bruscamente no silêncio do estúdio

de forma teatral e programada.

o espectáculo vai começar.

iluminado pelas luzes intensas e brilhantes,

quinhentos watts pelo menos

e nada fica como antes.

 

sentado atrás de uma grande mesa semi-circular,

está um homem sentado que nos dizem ser jornalista.

há um enorme mapa mundo atrás para nos situar

na cena prevista.

 

uma música de abertura, triunfante inunda o estúdio. 

tudo a cheirar a bombástico, direi mesmo estapafúrdio.

o senhor jornalista até aí estático na cena,

como que à espera de receber uma qualquer ordem,

sorri e com um movimento de cabeça, acena

em sinal de compreensão.

 

sentado à esquerda do senhor jornalista está um senhor actor

perdão...

um senhor que nos dizem ser comentador, 

seja lá o que isso for.

o senhor comentador apresenta uma expressão cerrada,

como convém à credibilidade de um senhor comentador.

não será de bom tom dar muita confiança à gente

que o vai ouvir.

pretende transmitir assim uma imagem de conhecedor e de inteligente,

de senhor sabe tudo de tudo.

está preparado para falar sem parar

e nem por segundos ficar mudo.

 

o tal senhor actor

perdão...

o tal senhor comentador,

ouve desatento a pergunta do senhor jornalista.

desatento porque a pergunta não lhe interessa.

porque já tem decorada a resposta que trás para nos dizer.

desatendo porque vai falar muito sem responder.

responder claramente a perguntas não!

não é para isso que o partido lhe paga

e assim neste tom continua a triste saga.

 

o tal senhor actor

perdão...

o tal senhor comentador,

com inesperada convicção,

começa a dar a sua opinião,

pretendendo convencer quem o está a ouvir,

porque infelizmente ainda há gente que o ouve,

de que ele e só ele tem razão!

 

o senhor jornalista como parte amorfa e integrante da cena

encomendada,

vai acenando automaticamente com a cabeça

em jeito de aprovação,

à não resposta do senhor comentador,

sem o mínimo pudor.

 

finalmente nós,

os por estes dois considerados estúpidos mortais,

perante opinião tão contundente,

ficamos com duas possíveis opções:

 

acreditar piamente

nas opiniões debitadas como lições

por esta gente...

 

ou o que devia ser mais normal,

desligar calmamente o canal

dessa desinformação

e resmungar com toda a sabedoria e convicção:

 

não filhos da puta

a mim

 

não me enganam!

Arthur Santos
© Todos os direitos reservados