Íntimo da Desesperança

A destruição do ser não é a podridão da matéria,

Mas sim os implacáveis momentos de infelicidade...

E o mundo sempre nos espreme, em febril neutralidade,

Até nos reduzir a um projeto de carcaça funérea!

 

Quantas decepções cabem em um ser vivo!?

Quantos vermes anseiam me roer, famintos!?

Estou acabado, correndo de um lado para outro em labirintos,

Onde apenas observo meu sangue jorrar, passivo...

 

Só tenho responsabilidades e experimentações de fracassos.

Por que não m'afundo em um poço de ácido?

Deixar a carne se liquefazer até os ossos - em um fim plácido

E destruir o que fui aniquilando a carniça até os estilhaços!

 

Quando cometi o grave erro de viver sem cogitar as consequências?

Não vejo mais os esboços cinzentos de mim mesmo, só o resumo.

Quero meu corpo dissipado ao nada, tal qual o fumo

A esvoaçar e sumir sem mais quaisquer experiências...

 

Para que sentir o gosto hórrido das larvas

Que se remexem em mim atraindo a súmula das desgraças!?

Ninguém passa pelo mundo sem sofrer, sem ser roído por traças?

São todas as vidas como a minha: Parvas!?

 

Retirem a pele do meu ser e arranquem a casca!

Em tudo venho falhando: Amor, sexo, dinheiro...

As dívidas que possuo são altas, sinto o pútrido cheiro

De um cobrador se aproximando... E minh'alma ele masca!

 

Ah! Mas tais desabafos não alentam este mundo cínico e impiedoso...

Devia eu ter ficado inocente como raquítica criança

E não ter desafiado o núcleo íntimo de toda a desesperança,

A qual se tornou metástase na vida deste homem pavoroso...!