Os pobres e os homens são assalariados
Na universalidade duma existência insana,
Imergem e emergem para todos os lados
Desprovidos de vida, miseráveis, sem grana.
Sede e fome são memórias de reais perigos
Que se alçam dentre o povo depauperado,
Dias remotos levam mortes aos vários asilos
Onde doenças nocauteiam o ancião exilado.
 
Na solidão de um silêncio há o dote macabro
Em que saúde é nostalgia de tempos pretéritos,
O sonho é azedume sob as velas do candelabro
Que castram da saudade os instantes etéreos.
Sobrevida é um desdém cuja respiração é tônica
Dos átomos que circundam desastrosos vícios,
Saboreia-se uma carnificina mefítica e diacrônica
Enquanto em faustos banquetes há desperdícios.
 
Inocentes criaturas desovam suas lágrimas febris
E soterram a esperança em lamaçais pantanosos,
Nos campos os girassóis murcham perante colibris
Que incendeiam as seivas em néctares libidinosos.
Diante do céu há nuvens carregadas duma alegoria
Que deixa o planeta órfão das vitrines de algodão,
Fenômenos extra-sensoriais conduzem da fantasia
Farrapos ideológicos censurados pelo suor do vilão.
 
Indubitáveis momentos duma realidade sem retina
Amordaçam os idílios peremptórios do ser doentio,
Nos mares a correnteza carrega o álbum da rotina
E as vagas jogam sobre as pedras um tesão sem cio.
Sintomas de caduquice são percebidos pelo tempo
Que, ignoto, não subleva do orbe sintomas futuros,
Por isso a vida é madrasta para quem é sentimento,
Pois luta-se bravamente dentro de circuitos impuros!
 
 

 
DE  Ivan de Oliveira Melo  

Ivan de Oliveira Melo
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