Eu que andei pelo mundo

Com um olhar telescópico

Sem aceitar ou entender

Mas com grande inquietação 

Vi passar aqui, ali, acolá... o tempo

Sem conhecer solução 

 

Não sabia o que procurava

Nem a quem perguntava

Onde existia o culpado, a culpada

Pelo olhar moribundo

Pelo cansaço profundo

Qua assola crianças e adultos, no mundo

 

Vi becos, vi favelas e vielas

Vi o ranger de dentes e panelas

Vi rosto e corpo desintegrados

Vi tristeza por todo lado

Corria, andava, parava...

Sem saber o que procurava

 

Mas via em todo cotidiano

Tal qual olhar infantil haitiano

O assombro do amoral

Na sala, na cozinha e no quintal

E uma desfarçatez animal

De tantos que se anunciam do bem, mas são do mal

 

E ainda lutam por espalhar a crença do fenômeno natural

Quando percebo a distribuição desigual, a cara de pau

E no outro extremo sorrindo

O desperdício e a abundância 

De mãos dadas à desgovernança... à desesperança

 

Aí, então, descobri

Depois de muito percorrer

Encher os olhos de lágrima... sofrer

Vez que a malvada foi chegando

E aos meus pés se "aninhando"

A me olhar, indiferente e zombando

 

E sem que eu lhe perguntasse 

Em pé se postou e se apresentou...

"Meu nome é a fome"!!!

 

 

 

Silvestre Sobrinho
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