Vale a pena um verde novo


Tenho muito e nada pra falar
Para muitos parece conversa á toa
Não sei se o que vejo é verdade ou é efeito da garoa
Eu estou vendo demais ou será que o resto é cego?
Ao observar o gorjear das aves, dei uma folga ao meu ego
Sei que as daqui não gorjeiam como lá, segundo Gonçalves Dias
Componho minha própria ‘’Canção do exílio’’, com o passar dos dias


O instinto anti-social é consequência dos influxos
Suas convenções pseudo-sociais eu rejeito com refluxo
Estado de anomia, terminal patologia, mas o pulso ainda pulsa
Convulsões populares rompem homeostases e forjadas pazes
O aparato velho da estrutura arcaica cheira a pó e me dá repulsa
Para melhorar, temos maconha, ópio, morfina, ritalina e prozac
Panelas cheias batem em protesto, e outras cozinham crack


Saúde, é só je-SUS
Transporte é enxurrada
Educação acabou o estoque
Segurança é padrão Le cocq
A ética é Gersinho e Loki
Democracia é numerosa: 11, 13, 15, 25, 45, 121, 171, 157
A fortuna da velha elite é furto do trabalho escravo


Necrosam as veias abertas da América Latina
A dor negligenciada pelos caudilhos desatina
Sapiens homo, ecce homo, desune a ONU
Esquerda virou cabo eleitoral da direita
Opinião política virou seita, apenas aceita!
Que dói menos, que DOI-CODI
Tento me manter no centro, mas teimam em me levar pro meio! Que receio!


Os lados da moeda possuem preços diferentes, sem terem nenhum valor
Com a coroa muitas caras são compradas, sem levantar nenhum rumor
Cadê o pato, pato aqui, pato acolá? Vá à FIESP, perguntar o que é que há!
Casa grande se afrancesa a champagne, a senzala definha em prantos
A paz para tentar ser feliz, embaixo do meu nariz, procuro aos quatro cantos
Redes sociais debatem decisões mal resolvidas pelo povo
O mesmo povo exilado em sua repetida história, vale a pena ver de novo


Os rótulos, as placas, a gramática e a partitura é uma forma de sutura
Tu és um Charles Chaplin das engrenagens da indústria cultural, me chame contracultura
O tempo mede a moda, que constante muda sua estrutura
O apagão impele o medo, sem empalar como a tortura
O pós-moderno usa terno, Black-tie e chinelo, comunista e calculista, dinheiro não e beleza pura
Águas de março são moles, a pedra do caminho é dura
Democracia mole, ditadura, tanto bate até que fura


Não pense em crise, trabalhe, é só uma marolinha
Na mesma praça, no mesmo banco, que a praça não é mais nossa
Tomaram-na pela noite, enquanto a gente dormia, tentando sonhar um melhor pesadelo
Tarde demais para recuperar, pois vocês ignoraram meu lúcido apelo!
Só sei que não aceitarei sua moral, seus bons costumes dos porões da arena
A correria dos manifestantes dá gangrena, é morte sem pena
Em vez de professor transformar geração, alckimistas transformam a garoa em cinzas