Brasilônia desvairada

Sexta de manhã, saí mais cedo do trabalho
Menino de aluguel, diferente da música do Zé Ramalho
Deitado ocioso num chão moribundo
Vou ocupar minha mente, antes que me chamem vagabundo
Sem entretenimento bobo e barato, pensando comigo mesmo na cara filantropia
Limpo meus óculos guardados, lá fora é só miopia, cegueira e hipermetropia
Disso eu corro, tento me vacinar, mas ninguém está isento
Tentam limpar o Congresso, a calçada, a ficha e o nome com ainda mais excremento


As chamas da Babilônia estão queimando até a Amazônia
Cheiro de fumaça radioativa aumenta mais a nossa insônia
Esta já existe desde os primórdios da colônia
Transformando tudo em cinza, pra erguer um império de lama
Base de ferro, corpos de carne, pessoas de ferro e mentes de barro
Com o coração de pedra, fazem da liberdade sua cela
Copo pro alto, fumaças mais ainda, dançam pelo ar
Refletem o quanto baixo as nossas almas conseguiram chegar


Enquanto a banda toca, a tela esquenta com muitos casos de família
Tela quente, caiu na rede é peixe, sem ser do ‘’Terra da Gente’’
Vai se acostumar logo com a água, dentro dos vidros do aquário (não to falando de signo)
Esperando dos astros a fórmula mágica da vida, precisa de rei e de rainha produzida
De um castelo de purpurina, ser um eterno ‘’baixinho’’, bom menino obediente
A Babilônia está no ar, fora da novela, cada vez mais perto de mim
Só que não mostram na tv, por isso você não vê
E que o verdadeiro globo, barulhento e caótico, não faz apenas ‘’plim plim’’


Ídolos de panetone, além de durar pouco, só aparecem no Natal
Enquanto uns ditos músicos, fazem sucesso apenas no Carnaval
Ganham grana rápido, mas rapidamente desaparecem na velocidade de um flato
Fazem igual cachorro magro e brilham como olho de gato
Êxodo rural acabou com o sertanejo, cortando sua raiz
O novo estilo urbano se apropriou da arte de livre geratriz
Cuja liberdade de modo algum se paga
Se diz universitário, mas na verdade comprou vaga


Uma vaga, no horário nobre
Uma mente vaga que jamais descobre
Que a escola no Brasil só nos faz perder tempo
Devagando na aprendizagem, doutorando no supérfluo
Educação mecânica e ideal, para jovens orgânicos e reais
O decoreba dita o macete, para não usar nunca mais
Fórmulas são mais importantes do que Galileu fez na torre de pisa
O gringo pisa no brazuca lá no ranking do PISA
(Enquanto o povo chora o 7x1, os 10 milhões acabam em pizza)


‘’Voz do povo é voz de Deus’’,’’ o petróleo é nosso’’
‘’Esse é o país que vai pra frente’’, ‘’libertas quae sera tamen’’
Slogans e tempos diferentes, efemeridade permanente
E o nosso continente desiste, mas resiste, ainda que as veias sangrem
Eu como a comida deles, janto na mesa deles, brindo muito álcool importado
Enquanto pela porta dos fundos desviam nosso nióbio
Mesmo quando estou bêbado minha meta é ficar sóbrio
Tanta desgraça faz da ignorância uma dádiva, muitas vezes finjo refugiar nela a fim de não ser calado


PT, PSDB, ARENA, MDB, PMDB, PQP
Centralismo, federalismo, liberal, conservador, ficha suja, ficha limpa, ciclo difícil de romper
Nosso povo conserva a dor, entre agressor e vítima, eleição e impeachment, linearidade é esférica
Sofismo no conselho de ética, a justiça em silêncio em uma gritaria histérica
Uns roubam com frialdade e outros com mais estética
O vigiar e punir é enganado com a Bíblia em pleno Estado laico
Se nossa voz é muito ativa, o verbo é onomatopaico (pá)
Filhotes da ditadura são pais da democracia, regendo a ordem e o caos, num orfanato de mães céticas


No país do carnaval é Natal o ano inteiro, pois não desarmam o presépio
Vaquinhas, ovelhinhas envolta daquele que diz ser o menino
Mas extorque os fieis, se passando por messias, mas não passando de um larápio
Aqui o pecado é não cair no conto do vigário
Na mesa do vendedor não passam de um mostruário
Enquanto debaixo de terno e batinas há crucificação diária
Com muito apedrejamento, xingamento e feridas de pus
Lulala, brilha uma estrela, mas infelizmente dessa vez não é Jesus


Lar doce lar, veneno amargo, vontades ácidas
Avaliam quanto Vale o Rio Doce e suas vidas afluentes
Enquanto nomes evaporam água para garoar a tempestade
Raios e trovões, sem o ‘’wind of change’’, afugentam vidas flácidas
Vidas importadas valem mais, dólares e euros compram o real
Maquiando as faces da violência, entre os civilizados é normal
Muro de Berlim entre nós e o outro nessa Guerra Fria fortalece
O mano diz ‘’é nois’’, enquanto é o ‘’eu’’ que prevalece