Improviso de rima (''free'' style)

A guerra move o mundo, o mundo move a guerra
O movimento é mais vívido entre os vivos, superando o movimento da Terra
Enquanto uns descem ladeira abaixo outros sonham em subir a serra
O cara fera farra e o mano se fere e ferra
A si mesmo e a sua família esmera, para sustentar a alheia riqueza austera
Que suga até o fim os recursos da casa, e depois passar a colonizar, como fizeram com a Africa e a América, até mesmo a última cratera
Da lua, nosso satélite natural, que será logo encoberto por maquinários artificiais
De mesma função de sempre, transmitir o que desejamos ou não conseguimos ouvir e mais
Toda cobertura, toda lona para o grande demasiado humano circo, desgracioso cerco que derrama sangue, chora pus e fede a esterco
Fervilhando os vermes, as larvas que comerão, com agrotóxico e mercúrio até a última migalha de pão, último pé de colonhão
Assim como o português desmatou até a última muda de pau-brasil, assim tentou
No colonião, em que se criou a cultura do cidadão, que é cidade grande, é claro, política é chato e é para aquele engravatado
Desde o colonial período o álcool faz sumir a água; o fumo e as doenças, o povo; e minerar até o último coração de ouro, em meio a Serra Pelada, violentada e profanada, em troca de espelhos para o inocente
Que viu um mundo doente
Refletido, projetado em vivas cores a promissora sina do condenado
Rá, sorte que estamos cobrindo essa vergonha, espero que os ETs não estejam nos observando, vão rir, debochar, até chorar, espero que possam eles intervir, e não o militar
Em nossos valores, já desvalorizados devido à imobilizável crise já são comprados, vendidos, mas nunca consumidos
Alguns homens bebem, cheiram, enrolam e fumam nossa verba pública e o voto que você concedeu aos comprometidos
Mas ilesos lesam uma nação inteira de norte a sul, criando a fábrica de monstros, de bandidos
Quanto mais fundo é esse abismo, mais intensamente é construído o condomínio com um alto muro
Mas como dizia o Raul Seixas, quem não tem colírio usa óculos escuro, quem não tem filé, come pão e osso duro, quem não tem visão bate a cara contra o muro
Cada passo dado, honesto ou desordeiro nessa crise pós moderna é mais um passo em falso no desfiladeiro
Um tiro de grosso calibre no escuro
No escudo, de plástico, antes de ferro, junto a muito gás (assim como as câmaras da segunda guerra), cacetetes da ordem, trazem de volta a ordem feudal e escravista
Será que apenas ao colonizador pertence o direito de dizer ‘’terra à vista’’??
Enquanto ao colonizado, índio do século XXI, cabe a angústia de se ver coberto da almejada terra, dos pés à crista
Só que em sua nativa paz dentro de seu ordinário caixão
Termino aqui esse improviso sem cortes
Apesar dos muitos cortes, na verba pública, na mídia, na vida e na carne viva
Da mesma forma que os grandes improvisam de tudo para varrer nossa dignidade, os corpos dos brasileiros para baixo do tapete, estendido desde a coroa, trazendo os vícios exógenos de uma nação lasciva