Abrir os olhos pelas manhãs afora
É estar em evidência, ser artista!
Ficar fazendo pose onde o sol doura
E embeleza a poeira vista.
 
É pôr em relevo a alma,
Expondo-a em um altar de giz,
Fazê-la expelir suficiente calma,
Quando no fim do dia, uma voz diz:
 
"Tudo, tudo se coalha
Numa lembrança malformada..."
Silêncio ruim é o que resta,
E dúvidas, espocando a testa...
 
Espelhos mágicos foram esmigalhados,
As águas, rumo ao oceano,
E o sangue, carmesim e morno,
Viraram crosta e barro.
 
Desertos fragmentários se ergueram, tantos!
Corações humanos em revista,
Alinhavados, recrutados, em desencanto,
Escravizados mesmo, por preguiça!
 
Afinal, a luz salientando
O quase nada, semipartículas,
Cones de sol, manhãs sub-reptícias
 
Capturam os olhos, amolecem o ânimo,
Mas logo ali, ao sol se pondo,
O mesmo canto: "...tudo, tudo se precipita".
 

 

Lucilla Guedes
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