Asteroide errante num multi(in)verso

Ouço vozes, será que estou louco?
De vários lugares o mesmo som, como agora pouco
Louco por pensar nisso, em vez de fazer algo produtivo
Por ousar vozear o incomum que não se quer ser ouvido
No mundo do evidente, a moda é o vidente ressabido
O qual mantém esse corpo instável, estável em sua trajetória
No universo, desejo ver o inverso, descarrilando a locomotiva da história
 
Pensamentos sussurram, soam irrisórios
A toda manada selada, milimetricamente amarrada
Mas não esqueça que é civilizada
A ponto de mandar conscientes bárbaros a sanatórios e reformatórios
Para aprender a sentar à mesa, ‘’o homem na ponta’’, com modos e etiqueta
Por baixo dos tapetes e da toalha, sabemos que não basta comer com garfo e faca
E que o suor da sua testa é o que sustenta o banquete da festa
 
Muito monótono é reciclar sempre o mesmo lixo
Amassar rascunhos inúteis pré-escritos
No trabalho diário temo ao fim do mês
Ouvidos fartos das mesmas palavras vagas
Cansado estou de engolir meu grito ácido
Que como toda a consciência humana, é ofuscada pelo ronco das máquinas
Impotente mente rebobina a velha fita
 
Casas crescem verticalmente, assim como a relação entre senhor e escravo
Ordem e progresso, casa grande e senzala
Necessária interdependência garante a superioridade
Senão seríamos um exército individual num planeta vazio
Até ser um louco perdido no mundo em que a lucidez assassina promove sua insanidade
Guerreando quixotescamente uma guerra já vencida e inexistente
O inferno são os outros, mas precisamos das chamas deste para ser alguém
 
Ouço vozes, será que estou louco?
Voz passiva, desejando um dia estar na ativa
De um oculto objeto, que sonha em ser sujeito
Nessa sintática redundância, mudar de classe de qualquer jeito
Apagando o texto, novo período, mais verbos e menos oração
Impossível! Há tantos artifícios, mas nenhum pôde manter a coesão
Sem ponto final paro aqui, pois a autoria das próximas páginas já não cabe mais a mim