Uma lágrima que chora!

Uma lágrima que chora!

Insurge-se teimosa e virgem...
Brilho perolado, úmido, autógamo.
Em torrente escapa, jorra morna e caudalosa,
Nos sentimentos de que emerge e se desfaz.

Lava as tintas, refaz luzente a imagem,
A mesma que a fecunda e a compraz
E sulca os prados verdejantes
Dos desejos e das promessas
Na material ternura que em si traz.

Antes que incrédula deságue em fracasso
Ainda pura, inteira sentimentos,
Enxuga-se na beleza da esperança,
Pavimenta, subjetivas, as vias da justiça,
Perde-se na encruzilhada de desérticos lamentos,
Tece a compaixão, degela a cólera,
E no hiato do próprio brilho rascunha a eternidade.

O céu, grávido de suas certezas, para e espera,
Espera pelas turvas lembranças que se erguem,
Em silencioso ressuscitar,
Cravejadas de piedade e compaixão;
E compassivo em tudo a perdoa
E a afaga e a acolhe a oração.

Será no coração sua nascente?
Será na mente? Na insensatez?
É o vicejar que a suga?
Ou subjuga-lhe a morbidez?
Sejam os primeiros, crê-se coerente!
Submissa ao estio dos afetos,
Que, consoladores, germinavam nas sementes da ilusão.

A lágrima que chora irriga as folhagens do perdão,
Inunda o manguezal dos desafetos
E deságua ao fim na bacia da paz,
Da profunda paz de jazigos perpétuos.

Manito O Nato
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