I
 
La Fleur
 
Negra noite onde mesmo os espíritos dormem.
Ouvi a triste melodia dum bardo
Que dedilhava sua lira em meio às flores na penumbra;
Evocando a orquestra das estrelas...
 
A aurora fugia-me.
(Minh’alma estava em luto...).
Abandonado em sombras; o crepúsculo quase gótico me dava uma estranha saudade de morrer...
 
Súbito, a dama da noite sorriu.
(Na azúlea escuridão vi-a...).
Flor mágica: Musa do lendário dragão Fafnir.
(E eu m’afoguei no oculto daquele pólen...).
 
Letargo, num sinistro jardim,
As flores inebriavam-me com seu perfume sacrossanto.
(Eram nebulosas garras de neblina.);
O cheiro que os anjos devem ter...
 
Finalmente vieste a mim, ó anjo final...!
 
II
 
Mant de la Nuit
 
Quando saí de dentro da flor,
Em sonhos, renasci.
O Cruzeiro do Sul, rútilo iluminava um corpo apodrecido...
 
A capa da noite intensa
Alentava o meu misterioso horror.
Oh! Herege bruxa da lua,
Ousaste enganar-me no irreal!
 
Crias do medo do escuro
Espreitam e envolvem minh’alma.
(Personas...).
As árvores do destino m’ignoram.
Nada sou que de fato me sinta vivo...
 
Ó capa da noite, somos irmãos gêmeos e por isso é que amo-te fraternalmente!
Tristes mistérios definem-nos,
E nossa inocência é cheia de melancolia...
 
Nossas arestas cruzaram-se
Como espadas e broquéis.
(Simbiose de sofrimento...).
Teu sombrio estandarte cravado em minh’essência,
É como a música duma vida tardia...
 
É já muito tarde!
A noite é brutalmente morta pelo sol...
(Espectros do meu hoje...).
A lança em riste perfurando cem mil destinos...
(Eu e a noite somos um só...).
Antes do éter murchar como as flores,
Minh’alma desfalece, cansada de aspirar a noite...